PORQUE ESTÁS AINDA AÍ?

Eis a pergunta mortífera que tantas vezes escutamos, enquanto esbracejamos temerosamente em busca de libertação.

Na verdade, a mente ajuda, mas nem sempre somos por ela ajudados.

Não se sai de uma relação abusiva, ou de um abuso narcísico, que nos deixa marcas profundas na epiderme, através da cognição, e da certeza que aquilo não era bom para nós.

Se assim fosse, obviamente não existiram situações de stress pós traumático, de dissociação após abuso crónico e tudo se resolveria de forma mais simples e até simplificada.

O “ainda aí estás” é deveras perigoso, para quem todos os dias tem sonhos horrendos, para quem chora mentiras, traições, para quem QUER, mas não consegue abandonar, nem processar o que aconteceu na velocidade que aos olhos dos outros parece ser óbvia.

O “ainda estás aí”, tem nome próprio – traumatização ou retraumatização, que neste caso, é uma repetição de padrões de abuso, que vão despoletar de forma inconsciente, o trauma primário que aconteceu lá atrás.

Não há “ainda aí estás”, no processo de transformação e de aprendizagem sobre nós mesmos.

Na minha visão, a bandeira vermelha existe é o –  “já saíste daí num abrir e fechar de olhos?”, pois isto sim, poderá contribuir mais tarde para a perpetuação de tudo o que anteriormente não ficou resolvido.

Assim sendo, faço aqui um apelo aos amigos e amigas, daqueles a quem um dia, após uma separação dolorosa, já enjoados, disseram repetidas vezes, o famoso “ainda estás aí?”

Lembrem-se, cada um tem o seu tempo e que a mesma situação em diferentes pessoas, causa impactos diferentes.

Quando se trata de trauma, não só é preciso tempo, como também paciência e processo.

Afinal, será o mesmo tratar uma ferida no joelho, do que uma fratura exposta?

Deixo a reflexão, envolvida na certeza de que tudo passa, e um dia essa pessoa,“ não vai estar mais ali”, pois vai conseguir encontrar os recursos necessários que precisa, para fazer o seu caminho, incluindo e abraçando todas as suas partes, com resiliência, paciência e profunda compaixão por si, pelo seu processo, e pela possibilidade de doá-lo um dia, a todos aqueles que dele possam beneficiar.

Com Amor  respeito e dignidade, como diz Isabel Faia, se transformarmos a nossa dor em dom, já valeu a pena!