Estar apaixonada pode ser uma experiência maravilhosa. Sentimo-nos vivas, ligadas, com o coração cheio de esperança.
Mas quando esse “amor” começa a gerar ansiedade, medo e insegurança, algo precisa ser revisto, pois nem sempre aquilo que sentimos é amor verdadeiro — por vezes, é apenas um reflexo de uma carência profunda, um apego que nos prende mais do que nos eleva.
Já sentiu aquele aperto no peito ao enviar uma mensagem e não obter resposta? Já viveu o ciclo interminável de idas e voltas numa relação que terminou várias vezes?
Se alguma destas situações lhe parece familiar, este texto é para si.
O que é a dependência emocional?
A dependência emocional ocorre quando o seu bem-estar, autoestima e equilíbrio emocional dependem quase exclusivamente da atenção, presença ou aprovação de outra pessoa.
Vive-se com um medo constante de desagradar, sente-se ansiedade quando a resposta da mensagem que enviámos tarda a chegar, alimenta-se, ainda que em silêncio, a ideia de que, se essa pessoa nos deixar, não seremos capazes de continuar a nossa vida de forma saudável e feliz.
Como reconhecer uma relação tóxica ou dependente
Nem sempre é fácil identificar quando um relacionamento ultrapassa os limites saudáveis. Isto acontece, pois, muitas vezes aquilo que vivemos neste tipo de relações é-nos familiar, acabando assim por haver uma certa normalização de certas dinâmicas tóxicas e abusivas. Deixo-vos aqui alguns sinais comuns de dependência emocional, que na minha perspetiva está na base das relações de cariz tóxico e abusivo.
- Medo de expressar a sua opinião para evitar conflitos.
- Afastamento de amigos e familiares.
- Mudanças profundas na sua personalidade ou hábitos para agradar o outro.
- Ciclos repetitivos de término e reconciliação dolorosa.
- Sentir-se necessária, mas não verdadeiramente amada.
Se se revê nestes sinais, talvez seja importante refletir que o amor liberta, não aprisiona e que talvez aquilo que esteja a viver seja sim, uma forma de prisão emocional.
As raízes da dependência emocional
A dependência emocional não surge do nada. Muitas vezes está ligada a experiências de infância marcadas por rejeição, abandono ou negligência emocional — feridas invisíveis que moldam a forma como nos relacionamos.
Nessas experiências, aprendemos (inconscientemente) que o amor precisa ser “merecido” e que temos de nos esforçar intensamente para receber apenas o mínimo. Assim, buscamos nas relações afetivas o que nos faltou: afeto, validação, pertença.
A história de Marta (nome fictício)
A Marta é um exemplo que representa muitas mulheres. Na relação que manteve com Francisco precisava de garantir aquilo que ele chamava de “mínimos olímpicos” – não sair com as amigas ao jantar ou para noitadas, não usar decotes nem pintar as unhas de cores que dessem nas vistas, entre muitas outras coisas. Marta “cumpriu” até não aguentar mais. Afinal, tudo isto era para manter uma relação que, na verdade, já a fazia sofrer. Ela não era amada. Era apenas necessária. Em terapia Marta pode desconstruir as suas idealizações e ver a realidade daquela relação, e essa diferença foi fundamental para compreender o tipo de vínculo em que se encontrava e que não queria mais perpetuar.
Começar a sair da dependência emocional
Ao longo destes anos em que me tenho dedicado ao estudo e aprofundamento deste tema, e que tenho trabalho em mim estes padrões também, mentiria se dissesse que é fácil sair da dependência emocional de um dia para o outro. Não é. Requer processo, mas sim, é possível vivermos relações sem este tipo de dinâmicas.
O primeiro passo para sair de uma relação emocionalmente dependente é reconhecer o padrão e acolher a dor, em vez de a rejeitar. Para isto, a terapia pode ser bastante útil, pois permite-nos conhecer melhor aquilo que nos habita, podendo com consciência ir abrindo espaço para que os nossos desconfortos, sejam aliados e não inimigos.
Uma prática poderosa que gosto particularmente é a de escrevermos uma carta para nós mesmas — falar diretamente com a parte de nós que ainda sofre em silêncio. A cura começa com o reencontro com a nossa essência, no silêncio, no espelho, na escuta daquilo que estamos a sentir. Na autonomia emocional que precisamos de aprender, para que o amor próprio possa surgir finalmente, de mão dada com a autoestima, os limites saudáveis para que possamos voltar a amar-se, mas sem nos encolhermos para caber em lugares que não nos pertencem.
Se este texto ressoou consigo, lembre-se: amor não é apego e não aprisiona — liberta.